quarta-feira, 28 de abril de 2010

Pronto para o encontro?

Você fecha os olhos e começa o jogo. Todos se escondem. Você dá o compasso da sua própria espera. É preciso dar tempo ao tempo. Para que possam se esconder. Mas também é preciso sair a busca. Para que você possa encontrar. E antes que termine a contagem – os números são infinitos, meu bem – eis que você encontra. E eis que é encontrado. Nesse jogo, todos se disfarçam, se encobrem, se fantasiam. Mas você, nessa altura do campeonato, já aprendeu: a razão do esconderijo é o desejo do encontro. E a razão do encontro é a necessidade de uma nova procura. Ainda que seja uma expedição de caça ao próprio objeto já encontrado. Afinal, são detalhes tão pequenos a se desvendar... Jogo de esconde-esconde com três regras básicas:

1 – o amor é velho
Mais velho que as tábuas de Maomé, muito mais antigo que a história de Adão e Eva.

O amor zomba dos anos
.*

2 – o amor é mutante
O tempo transforma tudo, tanto as regras do jogo quanto a paisagem vista da janela.

O amor anda no rastro dos ciganos.*

3 – O amor é sujo
Nenhum jogo consegue ser limpo.

O amor é poço onde se despejam lixos e brilhantes.*


Obs.: *O amor é velho, menina. Música do Tom Zé. É só procurar no youtube que você encontra.

Clara.

domingo, 25 de abril de 2010

Onde já não caibo mais

Porque quero fazer de mim um lugar maior pra se viver. Porque quero fazer de mim mais amigos. Porque quero fazer de mim algo mais do que já fiz. Porque quero fazer de mim tantas que me possa dividir sem penar. Porque quero fazer de mim aquilo que já fui e aquilo que serei. Porque quero fazer de mim o que não vou conseguir ser. Porque quero fazer de mim um barco a carregar comigo tudo aquilo que já tive. Porque quero fazer de mim uma grande voz cantando, ao mesmo tempo e sempre, todas as músicas que são eu. Porque quero fazer de mim mais do que uma cidade. Porque quero fazer de mim mais do que um bar que fecha. Porque quero fazer de mim mais do que dura uma noite. Porque quero fazer de mim uma farsa maior do que um sonho infinito. Porque quero fazer de mim mais do que sentimento. Porque quero fazer de mim corpo que não se cansa. Porque quero fazer de mim fogo que nunca se apaga. Porque quero fazer de mim alma que se dá e sempre tem alguém pra receber. Porque quero fazer de mim pássaro que tem céu e gaiola. Porque quero fazer de mim o que do mundo não depende. Porque quero fazer de mim tudo que não pode ser. Porque quero fazer de mim eternidade. Porque quero fazer de mim o impossível carinho. E isso, isso não tem cabimento, menina. Isso não cabe no ser. Ou seria apenas no seu ser que isso não cabe?
PS.: Porque NÃO quero fazer de mim o que passa agosto esperando setembro.

Clara.