terça-feira, 18 de maio de 2010

Menos pó

"Isso de estar sendo, tempo vivo, estar sendo" *

Altivez da morte. E se amante não sabes o sol do querer, é que a luz levantou-se mais cedo, fez reentrâncias, enganou as folhas, as árvores, o dia, claridade que devia ser chuva, e a chuva veio, esgarçando-se enquanto água, agredindo a luz e a vida, encharcando tudo, poço pesado, o dia, barro sujo e bestiário, pisar e nauseares, úmido diceramento, enganou-se de morte, foi-se embora com o sol. Talvez em outros mundos, luz, água, claro, mar. Aqui a vida é barro, terra molhada e suja, o que seca, mata e faz reviver.

O pó futuro, em que nos havemos de converter, é visível à vista, mas o pó presente, o pó que somos, como poderemos entender essa verdade? **

Quando você faz a minha carne triste quase feliz...

Você me faz parecer menos só, menos sozinho
Você me faz parecer menos pó, menos pozinho ***


* Hilda Hilst

** Padre Antônio Vieira

*** Zeca Baleiro


Clara.


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